quarta-feira, 25 de março de 2020

PRONUNCIAMENTO E ISOLAMENTO POLÍTICO

A pandemia está aí, para todos os países enfrentarem e no caso do Brasil, podemos dizer que se trata de uma prova com gabarito pronto, bastando preencher e entregar, isto porque países da Ásia e Europa já passaram pela situação e seus erros e acertos já são conhecidos, bastando identificá-los e aplicá-los. Mas o que parece simples não o é!
Saúde é uma questão econômica e por essa razão não somos o mundo, somos o Brasil, com todas as peculiaridades.

Nesse ponto, a prova que nos foi entregue com gabarito, sofre sérias revisões, assim como acontece com outros países da América do Sul e Estados Unidos - que tardiamente receberam o Covid-19.
Ao Chefe de Estado brasileiro cabem as decisões a respeito de medidas urgentes, tendo inclusive à disposição institutos jurídicos como o estado de defesa e estado de sítio, caso decidisse pelo isolamento social, impondo que pessoas ficassem em casa, inclusive com apoio do Exército.
Mas Jair Bolsonaro não optou por isso, ao contrário, preferiu minimizar a situação e inicialmente não tomou medidas efetivas, abrindo a prefeitos e governadores a oportunidade de dar a resposta que a população esperava.  Esse foi o seu primeiro erro frente à pandemia!
Talvez fosse exatamente nesse momento - aos primeiros casos do Brasil em 26 de fevereiro - que o Presidente pudesse apostar no isolamento social parcial que envolvesse apenas o chamado grupo de risco, pois assim teria o comando da situação, mas se perdeu no discurso contraditório com seu próprio Ministro da Saúde que, dito como técnico, merecia ser ouvido, deixando a questão política de lado.
Bolsonaro não vive um bom momento de relacionamento com o Legislativo e com o Judiciário, prova disso é que convocou e participou de ato público em 15 de março com pauta contrária a esses dois poderes e a pandemia me parece que seria sua oportunidade de mostrar que o Executivo está organizado e focado nas tarefas que lhe cabem. Mas o segundo erro dele foi exatamente assistir aos outros poderes tomando medidas em razão do Coronavírus, dentro das suas atribuições, como, por exemplo, prazos suspensos no Judiciário com atividades remotas.  O que se viu, foi exatamente o contrário!
A sucessão de erros não parou por aí e teve seu auge com a edição e posterior revogação da Medida Provisória que suspendia o contrato de trabalho por quatro meses. Sem entrar no mérito da medida, mas do ponto de vista político, o Governo errou, pois mostrou desorganização, mesmo sendo a situação inédita no mundo, não se pode responder com idas e vindas jurídicas.
O pronunciamento de ontem - 24 de março - foi a gota d´água para um isolamento político do mais elevado grau até então no Governo, isto porque sequer teve anúncio de alguma medida, se mostrou em tom tranquilizador, mas foi tardio, desconexo com as medidas que vêm sendo tomadas e, portanto, afastou parte dos fiéis defensores do Governo, ainda que pontualmente nesse questão.
Mas aí você me pergunta:  o que ele deveria ter feito para não errar tanto? 
Começo dizendo que pronunciamentos são bem vindos e deveriam anunciar medidas logo que o primeiro caso chegou ao país. E ele - tendo respaldo do Ministério da Saúde - deveria, logo de cara, anunciar o isolamento social dos grupos de risco com prazo certo e acompanhamento estatístico da situação, além de fechamento das fronteiras e medidas sanitárias gerais.
Se foi assim que pensou o Presidente, assim deveria ter agido desde o início, tomando frente da situação. Mas ao fazer isso somente agora, promove seu isolamento político.  Se der errado e o vírus tomar conta do país com caos na saúde pública, seu governo caminha para o fim, mas se der certo e passarmos pela crise mundial do Coronavírus, recuperará credibilidade popular, mas pouco ganhará frente ao relacionamento com os demais poderes e, desde sempre, com a imprensa.
O Presidente foi eleito para tomar atitudes e dentre os extremos da saúde de um lado e da economia de outro, escolheu o meio termo, mas no momento errado!
A vida do Governo não está fácil, mas muitas dessas dificuldades são fruto das suas próprias atitudes impensadas e desorganizadas.

2 comentários:

Unknown disse...

O maior virus que esta em circulação, é o virus ideologico, e somado com a ignorância e prepotência politica do Presidente, agrava ainda mais a situação atual, faltou jogo politico para lidar com a adversidade ideologica, as vezes o ataque as instituições nem sempre é a melhor opção, ter opiniões contrárias é um fato que todos noa enfrentamos, tiro por base o filme 12 homens e uma sentenca, pra quem assistiu sabe que é o poder da argumentação mesmo sabendo que todos sao contrários, acho queo preaidente deveria assistir, quem sabe, se sua mente deixar, ele conseguiria controlar a atual situação.

Unknown disse...

muito bom excelentíssimo professor.