terça-feira, 19 de janeiro de 2016

SILÊNCIO NO TÁXI



                Não é novidade que o serviço Uber representou uma pedra no sapato dos taxistas, isto porque, a prestação de serviço criou um padrão de atendimento através de um aplicativo e com preços consideravelmente mais atrativos.
                Nossa discussão aqui é outra!
                A pretexto de estimular uma concorrência leal entre os motoristas de táxi e de Uber, foi aprovada uma lei em São Paulo que proíbe, sim, proíbe que se converse dentro dos táxis sobre política, religião, futebol e assuntos ligados à categoria profissional dos motoristas ou problemas pessoais, a fim de não gerar estresse ao passageiro.

               Quem já dependeu de táxi em São Paulo sabe bem o que significa a opinião dos mesmos em ano de eleição municipal.  Os taxistas são considerados uma categoria importante pois lidam diretamente com um dos maiores problemas da capital, o trânsito, além de estarem atentos a outros setores da cidade como saúde, cultura, obras, enfim, dirigem o dia todo pela cidade, são testemunhas presenciais da vida louca da maior cidade do país.
                Recordo-me de entrar em um táxi em ano eleitoral municipal e ouvir de um taxista que o Maluf é que merecia ser prefeito e, pouco tempo depois, de outro que ele não fazia por merecer.  Opiniões diversas que demonstram que os pontos de vistas são pessoais, não se tratam de manobras orquestradas da categoria. Nem que fosse.
                O ponto a ser discutido neste espaço diz respeito à proibição de discutir os assuntos citados: trata-se, simplesmente, de inconstitucionalidade evidente, clara que merece a redundância, muito clara, claríssima.
                Por trás dessa lei, reside algo de pior que temos fora da democracia, a vedação da liberdade de opinião que, para mim, junto com a liberdade de imprensa, são sustentáculos da liberdade em caráter genérico!  Um verdadeiro absurdo jurídico e político.
                Aponto ainda a desinteligência da medida, pois é sabido que ninguém será punido por tal ato diante dos olhos atentos do Poder Judiciário, ou seja, a medida serve apenas para evidenciar as más intenções de uma política retrógrada que se apoia em um discurso democrático e tende para outro lado desconhecido, obscuro.
                Vamos aos fatos!  Por que um prefeito iria proibir taxistas de falarem de política em ano de eleição municipal?  Recuso-me a responder tamanha obviedade.
                Se bem que bastaria alguns minutos de buraqueira para saber o trato que a sua Administração tem pela cidade. Mas e outros assuntos?  Esses estão proibidos pela ditadura legal que não pretende perturbar passageiros com esses assuntos.
                Perturbador é o silêncio que tenta se impor! Assustador e que contraria o princípio constitucional da livre manifestação do pensamento, previsto no artigo 5º., IV, da Constituição Federal e, por consequência, o inciso VI que assegura a liberdade de crença e de consciência.

                Se o taxista for devoto de Nossa Senhora Aparecida e tiver uma imagem pendurada no retrovisor do carro, acreditando na proteção diária diante dos perigos que a má gestão trás à segurança de quem se aventura no trânsito, melhor trancar a padroeira no porta-luvas, aprisionada na escuridão e sufocamento de uma imposição legal desastrosa.
                Se o táxi passar ao lado do Morumbi e você questionar a quem pertence esse campo, não se assuste com o silêncio, a resposta pode ser considerada estressante, segundo a lei.
                Olha o ponto que queria chegar...
                Sabe aquela rádio que fica o dia todo tratando de assuntos políticos?  Nem pensar em ligar no táxi. Pronto, olha a liberdade de imprensa ofendida por uma lei municipal!
                Cheguei onde eu queria!  Dois sustentáculos do regime democrático flagrantemente feridos por uma lei (zinha) municipal.  A que ponto chegamos.

                

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