Aos 12 dias de maio de 1996 três jovens no alto de seus 18 anos passam o domingo de dia das mães com as famílias e se encontram no final da tarde para tomar uma cerveja e papear.
Tinham muitas conversas em comum, pois um dos amigos havia se mudado para São Paulo e só vinha de vez em quando para Rio Preto.
Sem exagero na cerveja, os três passaram horas conversando e dando risadas.
Ao entardecer, um dos jovens propôs mostrar aos amigos a novidade que havia colocado em seu carro. Um comando de válvulas capaz de superar até mesmo o tão desejado turbo que era moda nos carros da época.
O trio saiu esticando marchas e exibindo aquele Gol "mexido" pela avenida Alberto Andaló que, mesmo lotada, tinha espaço para algumas esticadas, uma espécie de "rachinha".
Mas isso era pouco para quem havia se preparado pra muito mais!
Naquele momento a juventude clamava por superação de limites. E isso logo aconteceu!
Uma dupla de jovens em uma Parati logo começou a dar sinais de luz para iniciar uma partida de "racha" pela rodovia WL.
Era o sinal que todos queriam!
Iniciava assim um "pega" entre dois carros "mexidos" ocupados por cinco jovens, todos com 18 anos, na busca de liberar a adrenalina que se acumula com intensidade durante essa fase da vida.
Vida? Palavra tão curta, assim como seu significado enquanto somos jovens e a desafiamos.
Naquele dia das mães ambos os carros se tocaram a 150 km/h e seguiram suas trajetórias distintas.
A Parati seguiu com pneus furados e a lateral inteira amassada. Os dois ocupantes presenciaram o capotamento do Gol (por três vezes) e sentiram que a melhor opção era fugir.
Na cabeça deles havia a certeza de que os três ocupantes do Gol não teriam resistido àquela pancada tão violenta.
Mas ali naquele local havia uma luz divina. Luz que iluminou aquela escuridão mostrando um novo caminho.
O carro parou, os três jovens apavorados sairam de dentro dele temendo pelo forte cheiro de álcool que tomava conta do interior do veículo.
Salvos, os três se abraçaram e juraram nunca mais cometerem os mesmo erros.
A chegada dos pais ao local do acidente foi repleta de emoção, muito choro.
Mas a chegada em casa foi cheia de broncas e resentimentos. Pais que acreditaram na responsabilidade de seus filhos quase assistiram suas mortes.
Um misto de sentimento de alegria e decepção!
Como não se decepcionar com uma situação dessas?
Esse fato narrado aconteceu comigo! O motorista e proprietário do Gol era eu! Um jovem que desrespeitou os pais, as outras pessoas, os próprios amigos e, principalmente, a vida. Que tentou abreviar sua vida tornando-a do tamando da palavra.
E essa história é tao atual, mesmo tendo acontecido em 1996. Ela pode ser contada hoje porque acontece hoje. Não é daquelas histórias de passado que não voltam mais. Infelizmente voltam...
Voltam levando vidas de jovens em histórias regadas pela bebida, muitas vezes drogas, velocidade pelas ruas da cidade.
Quarta-feira passada, dia de finados, eu, agora um pai de família, 34 anos, advogado e professor universitário, com meu Pedrinho de 20 dias, saí para pedalar às 6:30h da manhã e me deparei com mais uma história dessas, só que agora em 2011 e com morte!
Na avenida Bady Bassit pude ver a violência do impacto produzido por mais um feriado regado pelos mesmos ingredientes de 15 anos atrás.
E mais uma vez surge discussão sobre leis.
Querem proibir a venda de bebidas em postos de gasolina!
Por que sempre culpam a lei?
Esquecem que ela já existe? Que já pune (ou deveria)?
Pois bem, ontem o STF considerou a embriagez ao volante como crime.
Minha surpresa é se considerasse que direção e bebida não fossem ingredientes de um crime. Porque se assim tivesse decidido bastaria beber e sair matando pessoas.
Enfim, criar leis, proibir, não vai adiantar, precisamos de fiscalização. Se o STF considerou a embriaguez ao volante como crime, precisamos que a Polícia multe aqueles criminosos (sim, criminosos) que enchem a "cara" e colocam a vida, deles e nossas, em risco. Não basta punir após o acidente acontecer!
Com isso os jovens de hoje não precisarão contar suas histórias como estou fazendo aqui, sendo que muitos sequer terão tal oportunidade! Como um dos envolvidos no dia de finados...
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