sábado, 15 de março de 2014

CADÊ A OPOSIÇÃO?


                Que momento vivemos no país!

                Não quero aqui colocar a culpa no governo ou qualquer autoridade pelas mazelas sempre ocorrentes e nada inéditas no país.

                O que causa perplexidade não é só o governo tomando atitudes populistas, antidemocráticas, nem mesmo a promiscuidade da relação entre o Congresso e o Executivo. Há alguma novidade nisso?

                O que assusta é a falta de oposição e a apatia popular diante de tudo isso.

                Os partidos que se dizem oposição não exerceram fiscalização, simplesmente “se dizem” contra o governo, mas se escondem atrás de seus próprios interesses.

                O governo, sabedor disso, utiliza de sua posição para manter a situação “sob controle”.

                Mas se o “esquema” de governo repete práticas antigas que, inclusive, eram condenadas pelos próprios membros do atual governo. Cadê a oposição?

                Onde estão os parlamentares de oposição para apontarem com clareza todo esse “esquema”?

                Acho que estão no poder.  As vozes mais ferozes e corajosas estão deitadas em berço esplêndido, caladas, esquecidas!

                A oposição de outrora “aprendeu” a governar, enquanto os ex-governistas não sabem ser oposição.

                A oposição que hoje governa era tida como “oposição por oposição”, ou seja, “onde há governo, sou contra”, mas quando se tornou governo, foi incondicionalmente governo.

                Nada mais justo do que reconhecer que a oposição que gritava por tudo prestava um serviço à democracia, tanto que chegaram ao poder.

                A sutileza nunca foi característica daquele grupo que se aproximou da sociedade empunhando bandeiras como ética, moral e justiça social.

                A sociedade foi aos poucos se sentindo representada naquela voz rouca que ecoava e denunciava a podridão dos corredores do Congresso Nacional.

                E quem era governo naquela época?

                Os governistas daquele tempo não deram ouvidos a esses gritos, limitaram-se a chamá-los de comunistas. Pregaram o medo, medo este que foi capaz de adiar a chegada dessas vozes ao poder.

                Não criaram uma liderança capaz de falar a mesma língua do povo. Perderam o poder.

                Mas o que fizeram depois disso? Calaram-se...

                Foram capazes de assistir à condenação de mensaleiros da alta cúpula do governo sem sequer expor à população essa ligação íntima.

                A população não soube associar as coisas.  A popularidade do governo cresce a cada dia.

                Tudo aponta para o cumprimento de um projeto de poder de décadas!

                A condenação do governo só se concretiza através do voto. Essa tarefa é das urnas eletrônicas.

                Como é duro dizer isso!

                Apenas entendo que uma parcela muito grande da culpa pela ocorrência de práticas mensaleiras é da oposição. Ela inexiste, é uma falácia, uma farsa tão grande quanto o governo democrático que aí está.

                O governo tem a capacidade de aumentar sua popularidade mesmo diante de uma crise político-financeira, mas a oposição não tem a mesma capacidade para levantar sua voz.

                Nem mesmo as manifestações do ano passado foram capazes de promover a ligação entre opositores e manifestantes.  Estes recusaram a presença de bandeiras partidárias, não acreditam mais nestas instituições inertes.

                Resultado: as manifestações foram desacreditadas pela população diante de uma violência gratuita e suspeita do grupo anarquista “Black Bocs”.

                A quem interessa essa violência?

                Com certeza à oposição não interessa, pois afasta o manifestante pacífico e cria um pânico capaz de afastar pessoas de bem das ruas.

                No meio disso se criou ainda os “rolezinhos” em Shoppings, uma forma de manifestação em instituição privada, no aconchego do ar condicionado, bem longe das ruas e das manifestações contra o governo. Um cenário perfeito para um jovem se dizer “sou manifestante”, quando na verdade é um fantoche manipulado por arquitetos da política.

                E a oposição? Cadê?

                Quando Collor virou as costas para o Congresso, acreditando na separação de poderes, contrariou seus pares e deu voz a uma oposição feroz, capaz de liderar uma manobra que resultou em sua cassação.

                Os governos que se seguiram aprenderam com isso. Viveram o verdadeiro presidencialismo de coalizão, mantiveram uma excelente “relação” com o Congresso Nacional.

                O governo atual é formado por péssimos artistas. É evidente que o tino teatral do seu grande líder não se reflete nos demais.

                Mas isso não é suficiente para agigantar a oposição a despertar a indignação de boa parte da população, até porque o governo já “etiquetou” seus oposicionistas como “elite”.

                Quem é a “elite”? A grande culpada por tudo.

                Para alguns são os banqueiros, os usineiros, mas para outros são todos os empresários, a Globo e para outros a própria classe média.

                Olha só!  O governo criou a seguinte sistemática:

                Diz que defende trabalhadores e que a elite é responsável pelas mazelas do país.

                E você é trabalhador ou elite?

                Lógico que, diante dessa máxima, a pessoa se posiciona como trabalhador (quem não é?) e tende a encontrar a “sua” elite e dessa forma alimenta o discurso governista.

                Estamos sendo separados por classes sociais! Exatamente por um governo que se diz promovedor de justiça social.

                Mas quem vai substituir esse governo?  A oposição...mas qual se ela inexiste há anos?

                Está esperando o governo se enforcar com a própria corda, mas ainda não se deu conta que isso dificilmente irá acontecer sem um líder.

                Nossa democracia se transformou em uma ditadura partidária e a culpa deve ser atribuída em grande parte à oposição.

                Um dado para se pensar é que Lula foi um líder de oposição dos mais habilidosos e demorou 13 anos para vencer uma eleição.

                A oposição de hoje tende a demorar muito mais que isso! Não tem líder. Não existe.

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