terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A COMPLEXIDADE DE UM PROCESSO DE IMPEACHMENT

Impossível negar que o clima político atual esteja indo de mal a pior.
É justamente neste cenário de corrupção na Petrobrás que surgem vozes ecoando um pedido de impeachment da Presidente Dilma.
Ouve-se muito as pessoas dizerem que Fernando Collor "caiu" por muito menos que isso.
Pois bem, caberia um pedido de impeachment da Presidente?
É preciso pontuar algumas coisas, umas de ordem jurídica e outras de ordem política. Vamos lá...
Juridicamente o processo de impeachment pode ser iniciado por qualquer cidadão (esta condição é facilmente comprovada através de certidão da Justiça Eleitoral, no próprio site da instituição) e deve ser apresentado na Câmara dos Deputados.
Exatamente neste ponto reside o viés político do processo.
Isto porque a Câmara dos Deputados faz um juízo prévio das provas incluídas no processo. Sim, o cidadão que apresentar uma petição requerendo abertura de processo de impeachment deverá instruí-la com documentos que evidenciem as alegações.
Não se trata de um processo que atende às estatísticas do IBOPE quanto à popularidade da Presidente.  Não estamos falando de abaixos-assinados que circulam pelas redes sociais.  O Brasil não adotou o Recall como mecanismo de intervenção popular, ou seja, foi concedido um mandato à Presidente e este não pode ser interrompido, exceto com a comprovação de um crime.
Aos leigos posso adiantar que a comprovação de um crime é algo complexo pois alguns poderiam dizer "mas basta assistir aos jornais e ler as revistas para ver que há crime".
Guardem vossas indignações, caso contrário, terão apenas frustrações.
Mas o movimento nas ruas não é suficiente para que um processo de impeachment seja concluído com êxito?
Volto ao ponto: o processo de impeachment necessita de uma coleta de provas que evidencie a participação da Presidente nos crimes que estão elencados no artigo 85 da Constituição Federal.
Eu diria que o movimento nas ruas, uma espécie de "Fora Collor", seria necessário no momento em que tais provas eventualmente fossem aparecendo.
A natureza política do processo de impeachment inicia no momento pelo qual a Câmara dos Deputados faz o que chamamos de "juízo de admissibilidade" em votação aberta por dois terços.
A importância de um movimento popular forte?
Hoje a Presidente da República tem ampla maioria na Câmara dos Deputados e o processo facilmente seria arquivado. Só um movimento popular muito forte para fazer com que deputados federais "mudem" de lado.
A aprovação pela Câmara apenas inicia o julgamento, que será realizado pelo Senado Federal, mas é suficiente para suspender a Presidente das atribuições do cargo por no máximo 180 dias.
O processamento e julgamento é realizado pelo Senado Federal, na ocasião é presidido pelo Presidente do STF e, também por dois terços, poderá condenar definitivamente a Presidente à perda do cargo e inabilitação para cargos públicos por oito anos.
Não se pode esquecer que a Presidente também detém maioria nesta Casa Legislativa e a força do movimento popular não poderia se perder até o julgamento.
Ao que se nota é que o movimento popular é fundamental em um processo de impeachment, inegável que a pressão das ruas possa influenciar nos momentos cruciais do processo, mas é preciso lembrar também que a natureza política depende do aspecto jurídico que envolve o pedido.
Muitas pessoas estão confundindo o impeachment, transformando-o em um simples atendimento ao clamor popular, ele é muito mais que isso!
A democracia foi conquistada a duras penas no Brasil, consolidou-se em meio a altos e baixos, mas o momento, por pior que seja, deve ser analisado à luz das instituições democráticas que a mantém viva.
Ir para as ruas pedir impeachment sem que haja oficialmente uma petição recheada de provas, é acender um barril sem pólvora, insuficiente para efetivamente explodir.
Se há algo a ser pedido nas ruas neste momento é o funcionamento das instituições que investigam os casos de corrupção, só elas são capazes de dar sustentação jurídica a um pedido de impeachment.
Caso contrário, vamos voltar sempre ao ponto de partida, o voto é que pode mudar a realidade política do país e, antes dele, a educação.
A seguir cenas dos próximos capítulos...

3 comentários:

Unknown disse...

Muito bom, professor!

Unknown disse...

Ótimo texto Mestre. Simples, direto e de fácil entendimento para pessoas com menos conhecimento jurídico. TOP

Unknown disse...

Muito bom Mestre.
Texto objetivo e esclarecedor para muitas pessoas.
TOP