Já se diz por aí que um homem apaixonado faz loucuras e até se torna bobo com suas atitudes.
Acho que assiste certa razão na afirmação, pois quando estamos apaixonados o mundo se transforma e agimos focados em um só objetivo: a própria paixão.
Mas o que pretendo discutir aqui é outra paixão: a paixão por seu time de futebol.
Essa paixão, diferente da paixão entre dois "pombinhos", que promove outras transformações de caráter social e até mesmo econômico.
O povo brasileiro não detém a exclusividade de eleger o futebol como sua verdadeira paixão. Outros tantos povos no mundo também adotam seu time como prioridade.
Os ingleses, por exemplo, são caracterizados pela violência como forma de comemoração das vitórias (e derrotas) de seus clubes.
O fato é que o ser humano (de uma forma geral) elege um time para torcer o resto da vida. O indivíduo muda de religião (quantos não deixaram de ser católicos e passaram a evangélicos), muda de partido político (quando tem algum), muda a marca da cerveja, muda até sua paixão, mas não muda o time que irá torcer.
Raramente se ouve falar em alguém que mudou de time ao longo da vida e esses raríssimos seres humanos são desprovidos da paixão futebolística a qual iremos discutir.
Apesar de muitos dizerem "eu nasci corintiano" ou "eu nasci palmeirense" ninguém nasce com um time já eleito, a escolha do time vai acontecendo devido a fatores dos mais diversos como a influência do pai, da mãe ou de um tio, a fase de um determinado time que passa a ganhar títulos, o grupo de convívio na escola, enfim, "n" fatores mas nenhum ligado ao nascimento, com certeza!
Eleito o time, passa-se a defesa permanente e incondicional de suas cores perante os adversários!
É aí que mora a paixão que pretendo discutir.
Quando se diz que futebol não se discute é possível encontrar uma verdade absoluta na frase. Como discutir com alguém apaixonado?
Pense num indivíduo que estudou, formou-se médico, fez pós graduação no exterior, é titular de uma cadeira na melhor universidade de medicina do país e conceituado na sua área de atuação, pois bem, esse cara é capaz, durante um gol do seu time, de extravasar-se de tal maneira que perde o respeito pelos demais indivíduos presentes, só pelo fato de serem adversários futebolísticos. É capaz de perder a amizade com um dos melhores amigos por não aceitar determinada brincadeira e até mesmo pode ter seu casamento abalado por conta da insistência em ver um jogo do seu time no dia das mães.
O futebol transforma indivíduos em verdadeiros seres primitivos, incapazes de olhar para as conquistas e derrotas de seus times como algo normal, assim como são tantas na vida profissional e familiar, por exemplo.
O indivíduo suporta anos de estudo, provas e provas, cirurgias e cirurgias, mas não suporta ficar frente a frente com a gozação de um amigo do time adversário.
Logo após um gol de seu time esse comedido médico é capaz de proferir palavrões de alto calão em desfavor de torcedores do time rival e até mesmo de agredi-los se estiverem por perto.
O cantor Thiaguinho veio a público pedir desculpas pelas brincadeiras que fez com o Palmeiras durante a comemoração de um título do Corinthians. Famoso, esqueceu-se que seus fãs vestem as mais diversas cores de times do país, inclusive do Palmeiras.
Deixou a paixão pelo Corinthians o transformar em um mero torcedor, como se fosse possível agredir a torcida adversária e no dia seguinte voltar a ser o Thiaguinho cantor sem qualquer consequência.
As brincadeiras são salutares na medida em que não ultrapassam os limites daquilo que somos socialmente.
Pessoas que vendem seus bens essenciais para atravessar o mundo e assistir a final de seu time, não medem as consequências de uma atitude movida por uma paixão futebolística colocada acima de tudo e de todos.
É lógico que sob esse ponto cada um sabe aonde o calo aperta, mas a vida não se resume a um time.
Faço esforço para que meu filho seja sãopaulino, não para que tenha paixão exacerbada pelo time, mas para que torça pelo mesmo time que eu para que possamos juntos assistir e torcer, frequentar estádios, criando assim um momento pai e filho que considero importante, mesmo porque não tive, meu pai é Palmeirense.
Mas se ele seguir os passos do avô ou da mãe e decidir torcer para outro time saberei respeitar e ensiná-lo a respeitar também.
Tirando fatores como a bebida, as drogas e até mesmo a paixão, o futebol, assim como a direção (o ato de dirigir um automóvel) transforma as pessoas, despindo-as de seu caráter e respeito ao próximo e colocando-as como verdadeiros bichos capazes de, no impulso de um gol ou numa "fechada" no trânsito, matar ou morrer, só para se sobressair àquela situação.
Um novo ano se inicia e as esperanças se renovam, saibamos enfrentar os vários obstáculos da vida, saibamos torcer por nossos times, mas acima de tudo, saibamos respeitar o que somos, não permitindo que o impulso de um momento nos transforme, jogando nossa imagem, construída a "duras penas", em descrédito perante aqueles com quem convivemos.
Obrigado aos vários leitores que conquistei durante o ano! Este espaço é nosso e podemos nele discutir tudo aquilo que consideramos interessante. Que Deus abençoe a família de todos e que 2013 seja um ano de muitas realizações, com saúde e muita paz.
Abração, torça pra quem quer que seja, mas seja você, sempre!
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